Surprise Me!

InVersos: Manuela Carneiro - Sã

2014-10-25 5 Dailymotion

Os loucos são mais loucos de serem lúcidos, <br />sinceros dos mundos que intuem, velam, <br />dos deuses os ângulos sábios das paredes <br /> <br />Por isso conquistam a morte nos muros, <br />empedram a serenidade na promessa exacta, <br />mastigam pêssegos infinitos na tremura da língua, <br />reviram os olhos de caroços que rodam e rodam <br /> <br />E babam e babam, escorrem a terra de lábios que lambem e lambem, <br />chupam na fruta a seiva profunda, o suco da carne alienígena, <br />espancam os dentes frenéticos na precisão demente do açúcar <br /> <br />Oh! quero um espaço vazio e uma mesa para escrever-lhes <br /> <br />São os eleitos da criação, elucidados e absolvidos, <br />o entendimento na alucinação das orbitas gustativas <br /> <br />Mostram os lábios sangrados na repetição das unhas, <br />porque a árvore dedilhada reside-lhes dentro <br />e irrompem fundo os dedos na boca para trazê-la, <br />arrastá-la de sangue, desmembrada de braços e raízes, <br />os deuses pelo veludo descarnado dos pêssegos <br /> <br />Tenho beijos e beijos na boca para esses loucos, <br />para o tempo que respiram e vomitam as vísceras <br /> <br />Mãos para pentear-lhes os cabelos, demoradamente, <br />suavemente deslizar-lhes a pele de lábios e línguas <br /> <br />Passa um pássaro, olham e seguem, os ossos <br /> <br />já não voltam <br /> <br />Que tempo e asas levam <br /> <br />Desenham mapas contínuos na migração das aves, <br />podem a felicidade nessa abalada ininterrupta, <br />a alma alheada pela loucura apaziguada e livre <br /> <br />Como planam doces as pedras na polpa da fruta <br /> <br />Oh! quero um espaço vazio e uma mesa para escrever-lhes, <br />cartas e mais cartas, cestos e cestos de melaço <br /> <br />Quero os dentes dos loucos que trincam e trincam, sempre <br />as línguas geminadas que lambem e lambem e torcem, <br />a saliva urgente com que serenam os olhos, expurgam o sangue, <br />a loucura das asas saciadas, brancas, soltas pelo granito <br /> <br />Preciso banhar-me na polpa, no suco dessa demência sã <br /> <br />Manuela Carneiro

Buy Now on CodeCanyon