Noite: abrem-se as flores . . . <br />Que esplendores! <br />Cíntia sonha seus amores <br />Pelo céu. <br />Tênues as neblinas <br />Às campinas <br />Descem das colinas, <br />Como um véu. <br /> <br />Mãos em mãos travadas, <br />Animadas, <br />Vão aquelas fadas <br />Pelo ar; <br />Soltos os cabelos, <br />Em novelos, <br />Puros, louros, belos, <br />A voar. <br /> <br />— 'Homem, nos teus dias <br />Que agonias, <br />Sonhos, utopias, <br />Ambições; <br />Vivas e fagueiras, <br />As primeiras, <br />Como as derradeiras <br />Ilusões! <br /> <br />— 'Quantas, quantas vidas <br />Vão perdidas, <br />Pombas mal feridas <br />Pelo mal! <br />Anos após anos, <br />Tão insanos, <br />Vêm os desenganos <br />Afinal. <br /> <br />— 'Dorme: se os pesares <br />Repousares, <br />Vês? — por estes ares <br />Vamos rir; <br />Mortas, não; festivas, <br />E lascivas, <br />Somos — horas vivas <br />De dormir. —'<br /><br />Joaquim Maria Machado de Assis<br /><br />http://www.poemhunter.com/poem/horas-vivas/