Já raro e mais escasso <br />A noite arrasta o manto, <br />E verte o último pranto <br />Por todo o vasto espaço. <br /> <br />Tíbio clarão já cora <br />A tela do horizonte, <br />E já de sobre o monte <br />Vem debruçar-se a aurora <br /> <br />À muda e torva irmã, <br />Dormida de cansaço, <br />Lá vem tomar o espaço <br />A virgem da manhã. <br /> <br />Uma por uma, vão <br />As pálidas estrelas, <br />E vão, e vão com elas <br />Teus sonhos, coração. <br /> <br />Mas tu, que o devaneio <br />Inspiras do poeta, <br />Não vês que a vaga inquieta <br />Abre-te o úmido seio? <br /> <br />Vai. Radioso e ardente, <br />Em breve o astro do dia, <br />Rompendo a névoa fria, <br />Virá do roxo oriente. <br /> <br />Dos íntimos sonhares <br />Que a noite protegera, <br />De tanto que eu vertera. <br />Em lágrimas a pares. <br /> <br />Do amor silencioso. <br />Místico, doce, puro, <br />Dos sonhos do futuro, <br />Da paz, do etéreo gozo, <br /> <br />De tudo nos desperta <br />Luz de importuno dia; <br />Do amor que tanto a enchia <br />Minha alma está deserta. <br /> <br />A virgem da manhã <br />Já todo o céu domina . . . <br />Espero-te, divina, <br />Espero-te, amanhã.<br /><br />Joaquim Maria Machado de Assis<br /><br />http://www.poemhunter.com/poem/stella-8/