Partilha comigo, em silêncio, o meu recolhimento <br />nesta noite longa e melancólica. <br /> <br />Hoje sinto que nada sou, nada tenho, <br />tudo me parece frágil e sem nexo. <br /> <br />Deixa-te embalar pelo tic-tac do meu velho relógio <br />de caixa alta que solidário empresta à noite, <br />mergulhada em silencio, um sinal de vida. <br />Senta-te aqui, a meu lado, escuta a melodia fascinante <br />do fogo a crepitar de força e vida nesta noite triste e fria. <br />As chamas, crepitando, compõem uma nostálgica e <br />estranha melodia que convidam ao silencio, à meditação e à fuga. <br />Queria ter-te aqui, sentindo este aroma da lenha queimada. <br />Queria que caminhasses comigo nas minhas distantes e <br />mágicas recordações. <br />Encontro-te por toda a parte! Fundes-te na chuva que cai e <br />indiscreta me espreita pela janela. Projetas-te no vento <br />que me bate à porta e chama baixinho o meu nome. <br />Ressurges esculpida no contorno das sombras para me lembrar <br />que existo e que há mundo e vida lá fora. <br />Não vás embora, pelo menos tu Saudade, fica comigo. <br />Preciso da tua mão amiga a servir-me de bastão para me apoiar <br />nesta hora que sinto tudo estar fugindo e que eu, nada sou, <br />nada tenho, a não ser vazio e mágoa. <br /> <br />Alice Queiroz
