Os espelhos acendem o seu brilho todo o dia <br />Nunca são baços <br />E mesmo sob a pálpebra da treva <br />Sua lisa pupila cintila e fita <br />Como a pupila do gato <br />Eles nos reflectem. Nunca nos decoram <br /> <br />Porém é só na penumbra da hora tardia <br />Quando a imobilidade se instaura no centro do silêncio <br />Que à tona dos espelhos aflora <br />A luz que os habita e nos apaga: <br />Luz arrancada <br />Ao interior de um fogo frio e vítreo <br /> <br />Sophia de Mello Breyner Andresen