O início do debate parlamentar, em Ancara, com vista à mudança constitucional para dar mais poder executivo ao Presidente da Turquia motivou um protesto nas imediações do Parlamento turco. A polícia recorreu a gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes.<br /><br /> Um manifestante atingido pelo gás lacrimogéneo e a tentar minimizar os efeitos do esfregando neve nos olhos, apontava o dedo às forças de autoridade por alegado abuso de força. “Isto só acontece em regimes fascistas”, acusou.<br /><br /> Uma outra manifestante defendia que “a Turquia está sob ocupação”. “Os responsáveis pelas explosões, pelos confrontos, pelas armas são os mesmos que estão hoje no poder. Porque é que está aqui tanta segurança? Estamos em guerra?”, questionava Aysel Ileri, a manifestante.<br /><br /> Primeiro-ministro da Turquia entre 2003 e 2014, mas impedido de continuar à frente do Governo pela Constituição turca, Recep Tayyp Erdogan passou para Presidente em agosto desse 2014 e desde o primeiro dia com um objetivo bem claro: mudar a Turquia para um sistema presidencialista e recuperar o poder executivo.<br /><br /> Com um cargo oficial meramente protocolar, Erdogan prosseguiu na sombra a liderar a Turquia através de primeiros-ministros por si indicados e orientados. Aproveitando a instabilidade no país, foi perseguindo algumas forças da oposição e reduzindo o atrito no Parlamento, desbravando o debate em torno da mudança que lhe permitirá recuperar de forma oficial o poder.<br /><br /> O rascunho da alteração constitucional foi aprovado em primeira instância por uma comissão parlamentar e esta segunda-feira a medida começou a ser debatida no Parlamento. A principal força da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP) é contra e alerta que este será um retrocesso para o sistema em que o povo foi dominada por um sultão na época do império Otomano e do qual o fundador da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk, se afastou, adotando uma democracia parlamentar.<br /><br /> “Egemenliği Kayıtsız Şartsız Birine Verelim Anayasası” Dayatması TBMM Görüşmeleri 1. GÜN – 2. YAYIN https://t.co/mh9tm8BMO2— Ali Şeker (@draliseker) 9 de janeiro de 2017<br /><br /> O Partido da Justiça e Liberdade (AKP), de Erdogan, tem 14 deputados a menos do que os 330 votos (três quintos dos 550 existentes) de que necessita para levar a medida a referendo — se conseguir 367 votos, a alteração é aprovada de pronto. O apoio do Partido Movimento Nacional (MHP), que detém 40 deputados, pode ser suficiente, mas alguns destes deputados estão hesitantes em dar mais poder ao Presidente.<br /><br /> Erdogan defende que um sistema presidencialista daria mais eficiência governativa à Turquia e colocaria o país em linha com outras reconhecidas democracias como a da França ou a dos Estados Unidos, onde cabe ao Presidente liderar o governo. <br /><br /> O debate no Parlamento da Turquia deverá prolongar-se por mais de duas semanas.<br />
