Com Eduardo Salazar Uribe, em Caracas<br /><br />É a pior crise económica que os venezuelanos enfrentam em décadas. É preciso voltar ao fim dos anos 80, quando as convulsões sociais do chamado Caracazo mostravam ao mundo como um dos principais produtores de petróleo do planeta se encontrava de joelhos. <br /><br />Quase 30 anos depois, a História parece repetir-se: mais crise, mais miséria e mais fome. Agora, como então, os cidadãos apontam o dedo ao Governo.<br /><br />Berta Martínez vive em Caracas. A Euronews falou com ela enquanto esperava numa fila para comprar alguns alimentos num supermercado da capital. Berta não está contente com o presidente Nicolás Maduro:<br /><br />“Quero dizer ao presidente Maduro que se deixe de mentiras e que venha a nossas casas e ver os nossos frigoríficos” disse.<br /><br />Tal como Berta, muitos são os venezuelanos obrigados a fazer enormes filas para comprar arroz ou farinha.<br /><br />Uma espera que, no entanto, nem sempre dá os seus frutos. Muitas vezes por falta de bens para serem vendidos. Outras vezes, por falta de dinheiro.<br /><br />Segundo Alejandro Grisante, economista na empresa Ecoanalítica, os efeitos têm sido devastadores para os venezuelanos:<br /><br />“Cerca de 40% da população come agora menos do que três vezes por dia”, disse Grisanti à Euronews.<br /><br />“Comem uma ou duas vezes por dia. Muitos venezuelanos têm de procurar no lixo a comida de todos os dias e isto acontece perto de restaurantes mas também perto das urbanizações da classe média”, concluiu.<br /><br />A queda dos preços do petróleo castigou uma economia demasiado dependente. Os preços subiram, os rendimentos baixaram e o resultado não poderia ser outro: os poucos bens que existem custam demasiado dinheiro para grande parte da população.<br /><br />Ainda assim, muitos são os que continuam a defender o Governo do presidente Nicolás Maduro, como Yetzaida Morillo, para quem as desigualdades são muitas:<br /><br />“Os ricos não gostam dos probres. E nunca lutarão pelas nossas necessidades e prioridades”, disse à Euronews.<br /><br />Segundo o correspondente da Euronews em Caracas, Eduardo Salazar Uribe, o Governo venezuelano tem ainda muitos obstáculos pela frente. A inflação, por exemplo, deverá chegar aos 1100% até ao fim do ano.<br /><br />Segundo o Centro de Documentação e Análise para os Trabalhadores, com sede em Caracas, comprar os bens alimentares básicos custa em media, o equivalente a 330 euros. Apesar dos aumentos dos salários decretados por Maduro – que atingem os 260% – a realidade dos venezuelanos é outra. A maioria da população viveria com menos de 60 euros por mês.<br />