Texto de CIRO VIEIRA DA CUNHA.<br /><br />... A praça Oito é um homem de negócios. Sempre apressado. Não conversa. Monossilaba. Olha o bonde que tarda. E o relógio que corre. Pensa em letras a pagar.<br />Em preços de café. E lá se vai, quase. correndo...<br />A avenida Capichaba é um cavalheiro severo que gosta de silêncio e sai pouco de casa. Quando muito, à noitinha, para fazer a digestão.<br />A praça da Catedral é uma senhora, toda de preto e de mantilha, eternamente ajoelhada, lábios balbuciantes em fervorosa oração.<br />A praia Comprida é um moço que nasceu rico. Usa casaca. Não perde concertos. Tem automovel. E não compreende o mundo sem rádio e "frigidaire".<br />A praça da Independência é uma garota casadoira. Gosta de "vitrines" com vestidos modernos, pulseiras de fantasia e material de "maquillage".<br />O largo do Carmo é o "entreaberto botão, entre fechada rosa" do velho poeta. E' a menina que estuda geografia preocupada com a conjugação do verbo amar, que decora os limites das capitanias hereditárias, pensando nos galanteios a que assistiu na última "soirée" do Glória.<br />O morro da Fonte Frande é o brasileiro da gema, resistindo heroicamente à avalanche estranha à terra. Absorvido por uma fé extremada, procura, com os acordes do violão em acompanha-mento de modinhas caboclas, abafar os compassos bizarros dos "fox-trots" e dos tangos argentinos...<br />E o parque Moscoso... Ah! o parque Moscoso... E' uma enfermeira bondosa, de gestos mansos e longos, que acarinha e cura o coração da gente com o olhar esverdeado dos lagos e o sorriso macio das árvores...<br /><br />João do Rio tinha razão. As ruas teem alma. Porque vivem, sofrem, odeiam e querem bem...