Jesuítas no Brasil Revisão Histórica da Catequese Parte II (Jornal do Recife 1913)<br /><br />Os jesuítas evitavam comunicação com o Itapemirim, pois a jornada era mais longa e exposta, exigindo a travessia de diversos arraiais e povoados ao longo de seis léguas, além de três rios em suas barras próximas ao mar.<br /><br />A ambição e a cobiça desses religiosos estavam inscritas em caracteres misteriosos nas rugas de suas testas.<br /><br />Ao estudar a história da Capitania do Espírito Santo, percebe-se a opulência dos catequistas e a miséria de seus habitantes, até a expulsão dos jesuítas. Sobre isso, Gomes Netto observa que Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania, era tão pobre que precisou vender a quinta parte de seus bens, tomar dinheiro emprestado e ceder um terço do Estado em troca de um navio com provisões para transportar apenas 60 colonos. Se o fidalgo era assim pobre, o que se poderia dizer dos colonos? Eram, provavelmente, mendigos.<br /><br />Os colonos já estavam estabelecidos na região havia 16 anos quando chegaram os jesuítas, e a única edificação relevante era algumas casas na Vila do Espírito Santo (hoje Vila Velha), o que comprova que os primeiros povoadores não haviam enriquecido. Dessa forma, a população da época podia ser dividida em duas classes: uma paupérrima, composta pelo donatário e os colonos, e outra opulenta, formada apenas pelos padres da Companhia de Jesus. A prova dessa disparidade é que, imediatamente após sua chegada, os jesuítas construíram em Vitória um magnífico convento, denominado Colégio, obra tão sólida que resistiu por mais de 320 anos sem deterioração significativa.<br /><br />Essa riqueza se devia, em grande parte, ao apoio de figuras influentes, como o padre jesuíta francês Lavalette, célebre por suas atividades especulativas. Ele monopolizou o comércio das ilhas Martinica e Dominica e protagonizou um escândalo financeiro ao falir, deixando uma dívida superior a três milhões de francos. Esse evento foi um prenúncio da queda da Ordem.<br /><br />Gomes Netto conclui sua análise com a seguinte reflexão:<br /><br />"Os jesuítas foram mais poderosos que os reis absolutos, mas não puderam deter o braço do destino. Suas ambições geraram sua própria ruína, sendo condenados pela sociedade. O anjo cego da punição os varreu do solo americano com o látego da proscrição, afastando esses lobos de batina."<br /><br />A história confirma que a exploração desse capítulo obscuro foi sustentada pela fé cega da época, tentando elevar figuras como Nóbrega e Anchieta à condição de heróis. No entanto, sua verdadeira missão não era a catequese, mas sim a extração do ouro da Capitania do Espírito Santo para o engrandecimento da Ordem Jesuíta.<br /><br />O fracasso do projeto de catequese foi tão evidente que a Coroa Portuguesa, percebendo a farsa e o dano causado por esses padres, os expulsou não apenas do Brasil, mas de todos os territórios portugueses.<br /><br />Anchieta e Nóbrega, afinal, não passaram de meros jesuítas.<br />
